domingo, 28 de fevereiro de 2021

Uma aventura...

 

Um pequeno mal-entendido 

Lá estava eu, no chão, de bruços, cheia de dores e rodeado de bullies, não que fosse diferente dos outros dias. Eu sofro bullying desde os dez anos e, tal como aqueles professores rabugentos que não mudam de turma por nada, a minha bullie, Carla, nunca me  abandonou. Seis anos depois, ainda está aqui.

 Quando estava prestes a levar outro soco, uma voz feminina autoritária gritou:

- Parem!!!

Virei-me rapidamente para ver Ana Catarina da Silva, filha dos “nobres” da cidade, Gonçalo e Mariana Silva, que para além de terem muito poder, eram muito ricos.

- Como ousam entrar na minha propriedade e fazer este mexerico todo? Se o vão fazer façam-no noutro sítio. (Certo, não só são a família mais poderosa,  como também a mais arrogante.)

 A Carla e os seus capangas fugiram rapidamente quando viram dois brutamontes com um terno preto a aproximar-se da jovem Silva.

- Obrigada. - disse eu, ainda abalada.

- Não importa! Não o fiz por ti. - disse, virando-se de costas para mim. - Não somos amigas, não depois do que aconteceu. E rapidamente saiu acompanhada pelos dois seguranças.

          Nos dias seguintes, tudo seguiu normalmente. Acordava, ia para a escola, esquivava-me da Carla, ia para casa e dormia. Infelizmente, naquele dia, foi diferente.

          Lá estava eu a passear pela cidade, até que vi o mais velho dos Silva a conversar com o Presidente da cidade. Não me interessei pela conversa, até ouvir a frase: “A Catarina vai para o colégio Santa Luz”. (Para quem não sabe, esse é um colégio interno onde não existe contacto exterior. É um sítio que prioriza mais as notas do que a saúde mental dos alunos.) Não entendi o porquê dela ir para lá, pois ela era aventureira e, mesmo que não parecesse, era muito carinhosa, ou pelo menos parecia.

Eu corri até à grande mansão Silva. (Sim, dizer que era grandinha era um ultraje, aquilo era um verdadeiro palácio.) Eu bem que tentei entrar, mas os seguranças impediram-me. Tentei, então, alcançar a fechadura do portão dos fundos, só que a abertura era muito estreita. Depois de várias tentativas, tentei subir o muro, mas era muito alto. Olhei para o lado, já desesperada, e vi a porta do pequeno palácio a abrir-se. A Ana estava a sair. Gritei  o seu nome o mais alto que podia e  ela virou-se, fazendo uma cara de surpresa durante dois segundos. Depois, desviou a cabeça para o lado e perguntou, monotonamente, o que é que eu queria. Após isso, eu perguntei, rapidamente,:

- Vais mesmo embora?

- Eu vou, quer dizer, não tens a ver com isso!!! - resmungou ela.

Depois disto ficamos alguns minutos calados.

- Por que é que não me disseste?

- Por que é que te diria? - respondeu ela.

- Porque somos amigas- gritei- ou pelo menos costumávamos ser.- dizendo em voz baixa.

- Nunca tive amigas...só tive uma rapariga que me seguia para todo o lado. Enquanto eu a protegia, ela espetava-me facas nas costas.

Eu fiquei realmente confusa. 

Até hoje, eu pensava que nós deixamos de ser amigas porque ela não queria se envolver com alguém da plebe. Até hoje, eu não entendo o porquê. Uma lágrima escorreu pela sua delicada e pálida cara.

- Porque me deixaste sozinha?

Eu tentei responder, mas nada saiu, estava confusa. 

Alguns momentos depois, começou a chuviscar e ela caminhou para dentro de casa, sem dizer uma única palavra. E eu fiquei lá, até escurecer.

          No dia seguinte, depois de ter assimilado mais ou menos o que aconteceu, voltei para tirar a história a limpo. 

Assim,  fiz o que qualquer pessoa faria: vesti-me de canalizadora e fui para o portão principal. Infelizmente, nenhum dos seguranças acreditou que uma adolescente de dezasseis anos, que não tinha nenhuma ferramenta de arranjo, pudesse exercer aquela profissão. Sem noção, certo?

 Decidi voltar para casa para orquestrar um plano melhor, porém, na ida vi a Carla, lamentavelmente ela também me viu, corri, corri e escondi-me. No entanto, ela encontrou-me e começou o interrogatório:

- Onde está o meu dinheiro para o almoço? Onde estiveste?  tentaste fugir de mim?

- Nãa-o. - Gaguejei.

Depois disso, senti quatro mãos a segurar-me os braços contra a parede. (Certo, eram as amigas da Carla.) De seguida, ouço-a dizer o seguinte:

- Este cabelo é muito bonito, não acham? - Todas (exceto eu) assentiram.  - Apenas o meu pode ser assim. 

No momento seguinte, ela estava prestes a cortá-lo. No mesmo instante, vieram memórias na minha mente: no dia em que Ana me protegeu pela primeira vez das minhas bullies; ou no dia em que brincamos a tarde toda, o que era raro, já que ela estava sempre muito ocupada. 

Quando eu voltei à realidade, vi a tesoura quase no destino. Comecei a chorar e a pedir para ela parar, já que aquele cabelo tinha mais lembranças do que alguém poderia imaginar. Mexi-me e remexi-me, mas não me libertei. Então, quando aquele objeto afiado estava prestes a tocar no meu cabelo, ela disse:

- O que vais fazer agora? Antes, tinhas aquela tua amiga, todavia, fiz questão de a afastar.

Eu parei e refleti e foi então que percebi que a culpada pela nossa zanga foi ela e, num ataque de raiva, repentino, empurrei as raparigas que me seguravam. Levantei-me e elas olharam para mim com medo, ou era isso que eu pensava. Quando olhei para trás, vi nem mais nem menos a minha ex-melhor amiga e dois dos seus subordinados mais robustos. Pediu licença aos dois e os dois afastaram-se o suficiente para termos uma conversa privada.

- Estás bem? - perguntou.

Eu fiquei pasmada e, em vez de responder, corri um pouco e saltei para os seus braços. Que sensação boa...abraçar uma irmã há muito tempo perdida. Chorei muito, muito mesmo...ela ouviu a última parte da conversa da Carla e finalmente ela entendeu o que aconteceu. A mesma escreveu uma carta falsa, onde “eu” dizia que queria cortar qualquer laço que mantinha com a Silva. Depois de tudo, falamos durante horas.

          Até que chegou o dia do adeus. A Ana estava à minha espera, eu como sempre estava atrasada. Quando cheguei perto do local de embarque, gritei:

- Espera por mim!!!

- O que fazes assim vestida? - perguntou ela, enquanto me via com o uniforme da escola.

- Eu vou contigo.

- O quê? Pensei que odiasses esta escola.

- Não, odeio a companhia e não quero que te sintas sozinha. Também não me quero sentir sozinha e por isso junto o útil ao agradável. - disse, sorrindo.

          Eu sei que vamos ultrapassar isto, pois juntas, podemos fazer tudo.

- Amigas para sempre? - Disse.

- Sim. Amigas para sempre. - Respondeu ela, sorrindo.

                                                                  Lara Facote, nº 11, 8ºG

Uma aventura...

 

Valor de um sorriso 

Era um dia de grande movimento, havia meninos a correr de um lado para o outro, pais e avós empolgados, turistas em grande euforia, técnicos de som, de luz e de efeitos cénicos a preparar o tão esperado concerto de fadistas. Pelas ruas da cidade de Lisboa, um sol radiante se instalava e uma bela sonoridade se aproximava: “Lisboa menina e moça Lisboa…”.

- Mãe! Estás a ouvir esta música? – perguntou a Ritinha.

- Sim Ritinha, é a música do cantor Carlos do Carmo, um artista muito importante e de grande referência para o fado Português, que vai atuar hoje. - respondeu a mãe.

-É das minhas músicas favoritas! Estou ansioso por o ouvir! – disse o pai.

            De repente, o telemóvel do pai tocou e ele, assustado, disse:

- Ah! Estão-me a ligar do Hospital! O que será?

            Passados uns minutos, já com a mãe e a Ritinha impacientes à espera de notícias, o pai aproximou-se e contou:

            - Desculpa filha, mas soube agora que eu e a tua mãe vamos ter de ir para o hospital, estão a precisar de mais dois médicos para conseguirem salvar a vida de um menino. É mesmo uma urgência.

- Enfim, é sempre a mesma coisa! Sempre que tentamos passar um tempo em família, vocês falham e põe o trabalho à minha frente. – respondeu a Ritinha, chateada.

- Ritinha, tens de compreender que os pais têm mesmo de ir embora. Podes ficar aqui e assistir ao concerto, que já deve estar quase a começar. Haverão mais oportunidades para estarmos juntos. - disse calmamente a mãe.

            Quando os pais foram embora, a Ritinha começou a observar o que estava ao seu redor e o que mais lhe chamou à atenção foi ver famílias unidas a partilhar momentos, os filhos a abraçarem os pais e os avós a fazerem piqueniques com os netos. Ao ver isso, a Ritinha sentiu uma enorme angústia e solidão porque também ela queria estar assim com os pais, começou a chorar e preferiu ir para casa.

Em casa, a Ritinha começou a refletir sobre os bons momentos que já havia tido com os seus pais. Lembrou-se de quando os pais a ensinaram a andar de bicicleta; de quando iam ao cinema e lhe tapavam os olhos nas partes mais assustadoras; de quando nas viagens de avião lhe faziam cócegas nos momentos de aterragem para ela se distrair; nas noites em que ela não conseguia dormir e os pais estavam lá para lhe contar uma história e recordou-se da frase que os seus pais mais lhe diziam: ” Um sorriso não custa nada e cria muito, dura um só momento mas a sua lembrança perdura durante toda a vida”.

Nesse instante, a Ritinha trouxe de volta à memória todas as vezes que os seus pais a fizeram sorrir e percebeu o quanto tinha sido ingrata durante a tarde por não reconhecer o esforço e o amor que os pais lhe davam sempre que podiam.

Decidiu, então, fazer-lhes uma surpresa para recompensar a sua má atitude. Procurou a gravação do concerto daquela tarde e deixou-a em cima da mesa da sala para que os pais quando chegassem a casa pudessem assistir com ela. Fez o bolo favorito dos pais e deixou-o junto de uma mensagem que dizia: “Obrigada pais! Tenho muito orgulho de vocês, que todos os dias deixam esta casa para também deixar um sorriso na vida de outras pessoas. Sois os meus heróis!”.

Daniela Silva, nº4, 8ºG

THANKSGIVING